Os leitos mistos de resinas de troca iônica são amplamente utilizados no polimento final da água, especialmente em sistemas que exigem elevada pureza. Em geral, esses leitos são posicionados após sistemas de desmineralização (leitos catiônicos e aniônicos em série) ou após osmose reversa, removendo os íons residuais presentes em baixas concentrações.
Quando bem dimensionados e operados, os leitos mistos são capazes de entregar água com resistividades típicas na faixa de 15 a 18 MΩ.cm, atendendo aplicações críticas em geração de vapor de alta pressão, indústria eletrônica, farmacêutica, cosmética e laboratórios analíticos. Porém, justamente por operarem em condições sensíveis, também são suscetíveis a uma série de condições recorrentes que afetam a qualidade da água e a confiabilidade do sistema.
A seguir, apresentamos os problemas mais comuns em leitos mistos, suas causas e boas práticas para operação, manutenção e escolha correta das resinas.
Problemas mais frequentes em leitos mistos e suas causas
Apesar da alta eficiência, alguns problemas se repetem na operação de leitos mistos. Em grande parte dos casos, as causas estão associadas a falhas de regeneração, projeto, operação ou manutenção.
1. Qualidade da água fora da especificação
Um dos sinais mais claros de problemas em leitos mistos é a saída de água fora da especificação, com aumento de condutividade ou redução da resistividade. Entre as causas mais comuns, destacam-se:
– Má regeneração das resinas (dosagem inadequada, qualidade ruim ou contaminação dos regenerantes);
– Localização inadequada dos distribuidores de regenerante, comprometendo a uniformidade do processo;
– Razão incorreta entre resinas catiônicas e aniônicas, seja por erro de projeto ou por perda de resina ao longo do tempo;
– Contaminação orgânica na resina aniônica, geralmente decorrente de compostos orgânicos que escapam de etapas anteriores do tratamento;
-Polimerização de sílica na resina aniônica, quando a operação ultrapassa os limites recomendados de carga de SiO₂;
– Degradação dos sítios ativos da resina aniônica, reduzindo a capacidade de troca;
– Mistura e separação inadequadas das resinas, especialmente ligadas à etapa de retrolavagem.
Quando a água tratada pelos leitos mistos começa a oscilar fora da faixa especificada, é essencial investigar essas possíveis causas, avaliando tanto o histórico de operação quanto a condição física do sistema.
2. Má regeneração em leitos mistos
A regeneração é um ponto crítico para o desempenho dos leitos mistos. Problemas nessa etapa costumam estar associados a:
– Qualidade inadequada dos regenerantes (ácidos, bases) ou uso de produtos fora de especificação;
– Contaminação dos regenerantes, introduzindo impurezas diretamente nas resinas;
– Dosagem incorreta, seja por falhas de ajuste, problemas em bombas dosadoras ou variações de concentração;
– Distribuidores mal posicionados ou com avarias, dificultando a distribuição homogênea do regenerante;
– Separação incompleta das resinas na retrolavagem, prejudicando o contato correto entre cada tipo de resina e seu respectivo regenerante.
Uma regeneração inadequada reduz a capacidade de remoção de íons, encurta o ciclo de operação e pode acelerar a degradação das resinas, aumentando custos operacionais e de substituição.
3. Razão incorreta entre as resinas nos leitos mistos
A proporção entre as resinas catiônica e aniônica é um fator chave para o desempenho dos leitos mistos. Entre os problemas mais comuns, estão:
– Erro de especificação de projeto, quando a razão entre as resinas não corresponde à demanda iônica real do processo;
– Perda de resina durante a retrolavagem, alterando gradualmente a proporção inicial;
– Danos nas crepinas inferiores, possibilitando o arraste de resina para fora do equipamento.
Quando a proporção se desequilibra, o resultado é uma saturação mais rápida de um dos componentes, encurtando o ciclo e impactando diretamente a qualidade do polimento.
4. Contaminação orgânica e polimerização de sílica
A contaminação por orgânicos na resina aniônica é outro problema recorrente em leitos mistos. Essa contaminação costuma ter origem em:
– Compostos orgânicos que escapam de processos a montante, não removidos adequadamente em etapas anteriores.
Da mesma forma, a polimerização de sílica na resina aniônica ocorre quando o sistema opera além do limite de carga de SiO₂ recomendado, favorecendo a formação de depósitos difíceis de remover. Em ambos os casos, a consequência é a redução da capacidade de troca iônica e da qualidade da água produzida.
5. Separação inadequada das resinas durante a retrolavagem
A etapa de retrolavagem é essencial para garantir a separação adequada das resinas catiônica e aniônica antes da regeneração. Problemas comuns incluem:
– Resinas contaminadas (fouling), alterando a densidade e dificultando a separação correta;
– Tempo e velocidade de retrolavagem inadequados, insuficientes para promover a expansão necessária do leito;
– Aglomeração de resinas, causada por incrustações ou contaminações;
– Expansão abaixo do recomendado, reduzindo a eficiência da limpeza;
– Crepinas inferiores danificadas, comprometendo a distribuição do fluxo e a integridade do leito.
Quando a separação não ocorre de forma adequada, a regeneração deixa de ser eficiente, resultando em ciclos mais curtos, consumo maior de regenerantes e perda de qualidade da água produzida pelos leitos mistos.
Boas práticas de operação e manutenção em leitos mistos
Por operarem em condições mais sensíveis, os leitos mistos exigem uma rotina de operação e manutenção bem estruturada. Algumas boas práticas incluem:
– Monitorar constantemente a qualidade da água de alimentação, evitando sobrecarga de orgânicos, sílica e outros contaminantes.
– Acompanhar a performance do leito em tempo real, via condutividade/resistividade e outros parâmetros críticos.
– Realizar inspeções periódicas no equipamento, incluindo distribuidores, crepinas e sistemas de dosagem de regenerantes.
– Avaliar periodicamente as resinas, identificando sinais de degradação, fouling ou desequilíbrio na proporção entre resinas.
– Ajustar procedimentos de retrolavagem e regeneração, conforme as características da água e o histórico de operação.
– Registrar e analisar dados de ciclo a ciclo, para antecipar problemas e otimizar o desempenho dos leitos mistos.
Além da operação, a especificação correta das resinas é determinante para o desempenho dos leitos mistos. Uma escolha incorreta pode reduzir a vida útil das resinas, aumentar a frequência de regenerações, elevar o consumo de químicos e comprometer a qualidade da água de polimento.
Para que os leitos mistos cumpram seu papel como última barreira de qualidade da água, é essencial olhar para o conjunto: projeto, especificação, operação, regeneração e manutenção.
A Liter atua justamente nesse ponto, oferecendo:
-> Análise e diagnóstico de sistemas existentes de leitos mistos e etapas de polimento.
-> Suporte na escolha e especificação de resinas catiônicas e aniônicas mais adequadas ao processo.
-> Apoio em projeto e retrofit de equipamentos, incluindo distribuidores, crepinas e sistemas de regeneração.
-> Orientação em procedimentos de retrolavagem, regeneração e monitoramento da qualidade, para aumentar a vida útil das resinas e a confiabilidade do sistema.
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