A crise hídrica, que ocorreu entre os anos de 2014 e 2016 no Estado de São Paulo, acendeu a luz vermelha no que tange ao abastecimento de água potável do Brasil. Isto fez com que o tema passasse a ser prioridade em praticamente todos os meios de comunicação nacional. Assim, a procura por fontes alternativas de água tem se tornado frequente e essencial para indústrias e residências.
As explicações para este evento foram principalmente a diminuição das chuvas daquele período e a ocupação de mananciais. Não bastasse a presença de períodos de seca, comuns em qualquer região do mundo, dois outros fatores corroboram para afetar o abastecimento de água:
- O Brasil desperdiça muita água tratada;
- Não trata o seu esgoto, tendo como consequência rios poluídos, fator que pode impossibilitar a coleta de água destas fontes a fim de torná-la potável.
De acordo com os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE, os dois rios mais poluídos do Brasil são o Tietê, que corta a região metropolitana de São Paulo e o Iguaçu, que corta a região metropolitana de Curitiba. Dos dez rios mais poluídos do Brasil, três estão na região metropolitana de Porto Alegre e dois em Recife. Todas estas regiões tem a alta concentração populacional em comum. Isto exige uma reserva de água elevada para abastecer a região. Rios contaminados tendem a dificultar o abastecimento local.
O fato acima relatado é reflexo da falta de preocupação que a população tem em relação ao destino de seu esgoto. No Brasil, somente 36% da população das 100 maiores cidades tem o seu esgoto tratado1. Para deixar a situação ainda mais crítica, o pouco tratamento realizado nem sempre é eficaz. Em muitos casos o efluente recebe apenas o tratamento primário, que permite a liberação de elevadas concentrações de contaminantes nos rios.
Para complementar o cenário pouco animador, o Sistema Nacional de Informação sobre o Saneamento (SNIS), através do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto de 2014, apresenta que o Brasil perde em média 39% da água tratada (potável). Assim, de 100L de água tratada, 61L chegam ao consumidor final e 39L são jogados fora. No Norte do Brasil este número é muito maior, chegando a 60% de perda de toda a água tratada. Já o Sul, no outro extremo, perde 34%, porém um valor ainda muito elevado quando comparado internacionalmente.
O Brasil vem apresentando melhorias, porém as mudanças ocorrem lentamente. Por outro lado, a urbanização das cidades e a demanda por água tratada vêm apresentando aumentos em ritmos mais acelerados. O IBGE apresenta que em 2010 cerca de 84% da população brasileira viviam em áreas urbanas. Superior aos 82% dos Estados Unidos, indicado pelo World Fact Book da CIA.
A urbanização do Brasil trouxe alguns problemas, como o abastecimento de água potável, que pode ser prejudicada quando a disponibilidade hídrica da região é muito baixa. A ONU considera como “correta” uma disponibilidade hídrica acima de 2.500 m³/habitante/ano. “Pobre” uma disponibilidade hídrica entre 1.500 e 2.500 m³/habitante/ano. “Crítica” uma disponibilidade hídrica abaixo de 1.500 m³/habitante/ano. A título de exemplo, a Bacia do Alto Tietê provê menos do que 1/10 do considerado “Correto”, ou somente 200 m³/habitante/ano.
A instabilidade no fornecimento de água, atrelada à elevação dos custos da mesma vem gerando uma nova necessidade: a procura por fontes alternativas de água. Abaixo listamos as mais comuns:
Fonte | Definição | Usos Mais Comuns | Requisitos | Prós e Contras |
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Captação de água de chuva | Água de chuva captada dos telhados de imóveis. | Uso não potável: Utilizada para limpezas, descargas e irrigação. Uso potável: Utilizada para alimentar toda residência, comércio ou indústrial. | Uso não potável: Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores e cloração da água. Uso potável: Cisterna adequada, descarga da primeira água, remoção de COVs, remoção de contaminações microbiológicas, cloração e análises frequentes. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. + Possui baixas concentrações de contaminantes – fácil de tratar. + Baixo consumo de energia. + Baixo consumo de químicos. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. |
Captação de água pluvial | Água de chuva captada de redes pluviais após ter contato com o solo. | Uso não potável: Utilizada para limpezas, descargas e irrigação. | Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores, remoção de óleos e cloração da água. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. + Possui baixas concentrações de contaminantes – fácil de tratar. + Baixo consumo de energia. + Baixo consumo de químicos. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Não recomendado a potabilização sem um tratamento avançado. |
Água de poço | Água captada através da perfuração do solo com ou sem auxílio de uma bomba. | Uso potável: Utilizada para alimentar toda residência, comércio ou indústrial. | Autorização do órgão ambiental local, análise para detectar possíveis contaminantes e cloração da água. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. + Baixo consumo de químicos. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Pode apresentar elevadas concentrações de contaminantes indesejados. |
Água de lençol freático raso | Água captada de condomínios que passaram por rebaixamento intenso do solo, atingindo o lençol freático. | Uso não potável: Utilizada para limpezas, descargas e irrigação. | Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores, remoção de óleos e cloração da água. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. + Possui baixas concentrações de contaminantes – fácil de tratar. + Baixo consumo de energia. + Baixo consumo de químicos. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Não recomendado a potabilização sem um tratamento avançado. |
Reuso de água cinza | Água coletada de parte do efluente residencial ou comercial. | Uso não potável: Utilizada para limpezas, descargas e irrigação. | Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores, remoção de matéria orgânica e outros contaminantes presentes em menor quantidade e cloração. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. + Baixo consumo de energia. + Baixo consumo de químicos. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Não recomendado a potabilização sem um tratamento avançado. – Se não tratado adequadamente pode dar cheiro desagradável. |
Captação de água de condensação | Água de chuva captada dos telhados de imóveis. | Uso não potável: Utilizada para limpezas, descargas e irrigação. | Uso não potável: Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores e cloração da água. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. + Possui baixas concentrações de contaminantes – fácil de tratar. + Baixo consumo de energia. + Baixo consumo de químicos. + Possui baixa temperatura. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. |
Reuso de efluente doméstico (escala comercial) | Água coletada de parte do efluente residencial ou comercial. | Uso não potável: Utilizada para limpezas, descargas, irrigação e processos industriais. | Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores, remoção de matéria orgânica e outros contaminantes presentes em menor quantidade e cloração. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Não recomendado a potabilização sem um tratamento avançado. |
Reuso de efluente doméstico (escala municipal) | Água coletada de parte do efluente residencial ou comercial. | Uso não potável: Utilizada para limpezas, descargas, irrigação e processos industriais. | Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores, remoção de matéria orgânica e outros contaminantes presentes em menor quantidade e cloração. | + Reduz a demanda por água potável. + Possui baixas concentrações de sais. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Não recomendado a potabilização sem um tratamento avançado. |
Reuso de efluente industrial | Água coletada de parte do efluente industrial. | Uso não potável: Utilizada para processos industriais. | Efluente deve ser previamente analisado e posteriormente tratado em escala piloto. | + Reduz a demanda por água potável. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Não recomendado a potabilização. – Elevado consumo de energia. |
Reuso de descarga de equipamentos industriais | Água coletada de parte do efluente industrial. | Uso não potável: Utilizada para processos industriais. | Efluente deve ser previamente analisado e posteriormente tratado em escala piloto. | + Reduz a demanda por água potável. – Exige análises de acompanhamento da qualidade. – Não recomendado a potabilização. |
Dessalinização de água do mar | Água coletada do oceano. | Uso potável: Utilizada para alimentar toda residência, comércio ou indústrial. | Uso não potável: Cisterna adequada, remoção de materiais particulados maiores, de óleos e de sais para posterior cloração da água. | + Reduz a demanda por água doce. + Recurso abundante. – Consumo elevado de energia. |
- Em cidades menores o cenário é ainda pior.