Dimensionamento das válvulas Runlucky para uso em projetos

As válvulas são, de modo geral, caracterizadas de acordo com sua constante de fluxo, chamada de KV (sistema de unidades internacional) e CV (sistema de unidades americano). Neste post, vamos esclarecer como utilizar os valores de KV das válvulas Runlucky nos projetos de filtros e sistemas com resina de troca iônica, melhorando a precisão de cálculos de perda de carga e vazão.

Antes disso, é importante relembrar a função da constante de fluxo, que é utilizada para o dimensionamento das válvulas. Seu valor é utilizado para selecionar um dispositivo que permita o fluxo desejado, para que ocorra uma queda de pressão fixa.

A teoria sobre válvulas é extensa, e adaptações nas equações principais são empregadas para casos específicos com fluidos específicos. Para o leitor interessado em se aprofundar, sugere-se uma leitura do livro-texto da Emerson e das normas europeias que tratam sobre controle e automação.

Teoria básica sobre válvulas

A Figura 1 mostra o diagrama representativo de uma válvula qualquer instalada em uma tubulação, no qual mede-se a pressão de entrada e saída:

Figura 1 – Diagrama representativo de uma válvula genérica instalada em uma rede hidráulica.

Considerando um fluido incompressível em situação isenta de cavitação, a vazão Q pode ser calculada pela Equação 1.

(1)
Q é a vazão (m3/h), ΔP é a perda de carga na válvula (bar), ρ é a densidade (o subscrito f se refere ao fluido escoando), KV é a constante de fluxo característica da válvula e f(l) a função de abertura.

A função de abertura correlaciona como o fluxo varia em diferentes aberturas da válvula. Por exemplo, para uma válvula globo, ao conhecermos sua função de abertura podemos calcular a vazão com a válvula com 10%, 20%, 30% (entre outros valores) de abertura.

A função de abertura está associada à construção da válvula, principalmente com o plug de fechamento. Diferentes geometrias fornecem diferentes funções de abertura.

A perda de carga na válvula é calculada pela diferença entre P1 e P2.

Aplicação às válvulas Runlucky

Para ilustrar o uso dos dados de KV disponíveis nos manuais das válvulas, considere a situação de um abrandador dimensionado para uma vazão de 3,0 m3/h. Pode-se optar pelo uso das válvulas F63C3 (vazão nominal 4,0 m3/h) ou pelo modelo F130A3 (vazão nominal 6,0 m3/h).

As Figuras 2 e 3 mostram a curva de fluxo característica e o respectivo KV para os dois modelos de válvulas citados:

Figura 2 – Curva de fluxo para etapa operacional da válvula de abrandador modelo F63C3.
Figura 3 – Curva de fluxo para etapa operacional da válvula de abrandador modelo F130A3.

Podemos calcular a perda de carga necessária em cada modelo de válvula resolvendo a Equação 1 para ΔP, assim:

(2)

Como o fluido a ser abrandado é água, o termo de densidades assume valor igual a 1. Estamos interessados em saber a vazão na válvula quando sua abertura estiver completa, assim, a função de abertura também assume valor igual a 1. Assim, calculando a perda de carga para uma vazão de 3,0 m3/h, temos:

  • F63C3: ΔP = 0,92 bar
  • F130A3: ΔP = 0,39 bar

Desta forma, observamos que, se a maior perda de carga não for um problema, podemos optar pela menor válvula.

Imagine que, em vez de um abrandador, o sistema que seria montado fosse um desmineralizador de leito separado, com filtro de carvão como pré-tratamento e leito de resina mista como pós-tratamento, ambos para a mesma vazão de 3,0 m3/h.

Neste segundo caso teríamos quatro válvulas em série e, dependendo do restante do sistema hidráulico, a perda de carga poderia ser um fator decisivo. Adotar o uso de válvulas F130A3 nas colunas de resina catiônica e aniônica seria um meio de reduzir a perda de carga e diminuir a potência necessária na bomba de alimentação.

Aplicação para filtros: Vazão de retrolavagem

No projeto de filtros, as informações de KV são muito úteis para o dimensionamento das condições de retrolavagem. A Figura 4 mostra um desenho representativo da instalação de um filtro, identificando as principais informações do processo.

Figura 4 – Diagrama representativo da instalação de um filtro, identificando as principais variáveis do processo.

Com o KV da etapa de retrolavagem pode-se calcular a perda de carga necessária para obter a vazão de projeto para esta etapa. Como recomenda-se que o dreno seja direcionado a uma calha coletora, a qual efetivamente direciona o efluente gerado para o ponto de disposição final, a pressão no ponto 3 é igual a zero (tubulação descarregando sob pressão atmosférica). Assim, a própria pressão de entrada na válvula ditará a vazão na etapa de retrolavagem.

Por exemplo, considere um filtro que necessita de 12,0 m3/h de vazão de retrolavagem, e que este filtro tenha sido montado utilizando uma válvula F134A1 (vazão nominal de 8 m3/h). O valor de KV para etapa de retrolavagem nesta válvula é de 8,60, assim a perda de carga calculada é de:

  • F134A1: ΔP = 1,95 bar @ 12,0 m3/h.

Adicionando os valores de perda de carga na linha hidráulica, facilmente dimensiona-se a bomba necessária para etapa de retrolavagem.

Leia também: Problemas e Soluções para Válvulas de Abrandador da Runlucky

Compartilhe esse conteúdo:

Leia também

Qualidade da água de entrada para sistema de osmose reversa

A qualidade da água de entrada é um dos fatores mais determinantes para o desempenho, a confiabilidade e a vida útil de um sistema de osmose reversa (OR). Como a OR é um processo de separação por membranas, qualquer desvio na qualidade dessa água de entrada pode resultar em problemas sérios, como incrustação, fouling orgânico, formação de biofilme, aumento de consumo de energia e redução da vazão de permeado. Por isso, entender quais parâmetros definem uma boa qualidade de água de entrada e como tratá-la corretamente antes das membranas é essencial para garantir eficiência e reduzir custos operacionais. O que é a água de entrada em um sistema de osmose reversa? Chamamos de água de entrada (ou água de alimentação) aquela que chega ao sistema de osmose reversa após as etapas anteriores de tratamento, como filtração, clarificação, abrandamento ou outros processos de condicionamento. É essa água de entrada que entra efetivamente nos vasos de pressão e entra em contato direto com as membranas. Se ela não estiver dentro dos parâmetros recomendados pelos fabricantes, os riscos de falhas e paradas não programadas aumentam significativamente. Em outras palavras: não existe bom desempenho em OR com água de entrada ruim. Parâmetros críticos da

Leia Mais

Entenda quais são os problemas mais comuns em leitos mistos

Os leitos mistos de resinas de troca iônica são amplamente utilizados no polimento final da água, especialmente em sistemas que exigem elevada pureza. Em geral, esses leitos são posicionados após sistemas de desmineralização (leitos catiônicos e aniônicos em série) ou após osmose reversa, removendo os íons residuais presentes em baixas concentrações. Quando bem dimensionados e operados, os leitos mistos são capazes de entregar água com resistividades típicas na faixa de 15 a 18 MΩ.cm, atendendo aplicações críticas em geração de vapor de alta pressão, indústria eletrônica, farmacêutica, cosmética e laboratórios analíticos. Porém, justamente por operarem em condições sensíveis, também são suscetíveis a uma série de condições recorrentes que afetam a qualidade da água e a confiabilidade do sistema. A seguir, apresentamos os problemas mais comuns em leitos mistos, suas causas e boas práticas para operação, manutenção e escolha correta das resinas. Problemas mais frequentes em leitos mistos e suas causas Apesar da alta eficiência, alguns problemas se repetem na operação de leitos mistos. Em grande parte dos casos, as causas estão associadas a falhas de regeneração, projeto, operação ou manutenção. 1. Qualidade da água fora da especificação Um dos sinais mais claros de problemas em leitos mistos é a saída

Leia Mais